h

UX DESIGN NA GESTÃO JURÍDICA

Por João Paulo Anderson

 

Ultimamente – mais ainda a partir do início do confinamento por conta da pandemia – tem crescido o número de manifestações nas redes sociais e cursos on-line ou presenciais ligando o Design, a experiência do usuário (UX), e outros termos, com a gestão de negócios, em geral, e também com a gestão jurídica. Assuntos sobre gestão no direito passaram a ter mais importância como objeto de estudo e prática há pouco tempo. O fato de estarmos neste espaço, com um portal sobre gestão no direito, já demonstra como o assunto vem tomando corpo e importância dentro do nosso setor. Nas faculdades de direito, temas como empreendedorismo jurídico e inovação também pouco apareciam, pelo menos para quem se formou há mais de cinco ou dez anos.

Na coluna deste mês quero refletir sobre o conceito de design, desenho, experiência do usuário e sobre o próprio usuário do direito. Ainda, apresentar como o design e o UX podem melhorar a atuação do advogado, bem como abrir outras portas de atuação para o bacharel em direito.

 

Um novo significado para Design

Num primeiro contato, falar de design pode parecer ter muito a ver com desenho, forma, utilidade de um produto ou serviço. Isto porque, por muito tempo, o design teve relação apenas com a comunicação visual ou da melhor forma de conceber um produto. Mas ele se divide em diversos nichos, mesmo que não separados completamente.

Dentre as divisões da ciência do design – que se aplica na área das ciências sociais, assim como o direito – podemos dizer que há, num primeiro momento, dois grandes âmbitos:

  1. O design de produtos: é uma espécie de arquitetura dos produtos. Dizem que ele nasce a partir da necessidade de diferenciar produtos dentro da produção em massa da Revolução Industrial.
  2. Há também o design visual: ligada com cores, marcas, logomarcas, tipografia de letras. Assim como o design de produto, num primeiro momento a necessidade do design visual aparece na diferenciação entre empresas dentro de um mercado competitivo – falamos do nascimento do design em conjunto com o nascimento do capitalismo concorrencial.

Nos últimos tempos, no entanto, o design também aparece na organização das empresas. Um bom exemplo pode ser visto no filme “Fome de poder”, o qual narra a história do crescimento da franquia McDonald’s. Em um determinado momento do filme é apresentado como nasceu o conceito de fast food. Ao contrário da maioria dos restaurantes de hambúrgueres da época, o McDonald’s não contava com um amplo salão ou estacionamento em que os hambúrgueres eram servidos. Os consumidores eram atendidos em um balcão – como a gente se acostumou a consumir lanches hoje.

Conforme o filme mostra, para que o conceito de fast food fosse assimilado pelos funcionários, é desenhado no chão uma planta de como cada um dos funcionários deveria se locomover dentro de uma loja. Caso acontecesse algum problema, o desenho era refeito para tornar o processo ainda mais eficiente.

O que quero demonstrar com esse exemplo é como o design, mais do que uma forma de diferenciar produtos e marcas, ou mesmo trazer melhor eficiência para produtos, pode também ser usado para promover eficiência nos processos e nas empresas.

A elaboração de um desenho apresentando o fluxo de processos não precisa fazer parte de um quadro convencional da organização, como um quadro de organograma. O design pode ser subjetivo e mesmo assim estará presente. Há ainda uma nova função para o design que tem a ver com a didática. Trata-se do uso da imagem não apenas para a diferenciação de produtos, mas como uma maneira de explicar um processo, uma história, uma instrução. Esta forma de design aparece tanto em apostilas e livros, numa normativa de uma empresa, numa placa de trânsito, como até mesmo num contrato ou numa peça jurídica, por exemplo.

UX Design é muito mais que Visual Law

É para este último tipo de uso do desenho explicado anteriormente que o direito e o design se juntam como disciplinas para, de maneira transdisciplinar, criarem uma disciplina à parte, o Visual Law. O VL é, também, uma das intersecções entre design, direito, e o que se chama de UX Design. Este último é a abreviatura em inglês para User Experience Design, ou seja, Design da Experiência do Usuário.

Desta forma, o uso do UX Design dentro do direito não tem somente a ver com o Visual Law, mas está relacionado com muito mais: com a experiência que o usuário do direito tem durante todo o processo em que ele está utilizando o direito. Envolve não somente o usuário do direito poder entender as leis, as demandas, os contratos e as decisões dentro do Direito a partir de uma melhor visualização por desenhos, ícones e figuras – coisa que o Visual Law pode fazer de maneira extraordinária – mas mesmo a montagem e o desenho de processos que façam com que os direitos cheguem aos usuários.

Mas quem é o usuário do direito?

Com essa dúvida, fiz uma pergunta na minha página do Linkedin. “Para você, quem usa o direito?”. As alternativas eram: a) o cliente do advogado; b) os bacharéis; c) todas as pessoas; d) quem recorre à justiça. A resposta mais votada foi a letra “c”, “todas as pessoas” (78%). Em segundo lugar, apareceu a letra d, “quem recorre à justiça”.

Particularmente, acredito que todas as pessoas utilizam o direito a todos os momentos. Quando estamos dirigindo, quando estamos caminhando, quando estamos nos comunicando e fazendo trocas cotidianas. Além disso, mesmo que não sejam os direitos postos em lei, estamos sempre sujeitos à ética e etiqueta de convivência.

Desta maneira, o usuário do direito é quem tem um carro, quem se locomove por transporte público, os pedestres, os trabalhadores e os que não podem trabalhar. Assim, falar de usuários de direito, e de formas de melhorar as suas experiências, envolveria não apenas melhorar a sinalização de trânsito, a forma de um contrato ou de uma sentença. Estas são formas de melhorar a experiência de alguns usuários do direito, e não de todos.

No meu modo de entender, quando se milita pela melhora da Experiência do Usuário, deve-se levar em conta que o direito é ferramenta de proteção e de uso principalmente das pessoas mais excluídas social e economicamente. Embora todos nós usemos o direito, ele deve ser prioritariamente focado nas pessoas mais necessitadas.

Novas possibilidades de atuação

Desta maneira, se pensarmos que todos as pessoas do mundo são usuárias do direito, tanto o direito abre as suas portas para novas oportunidades de atuação e de maneiras de impactar o mundo para os advogados, como o design se torna uma das ferramentas para essa forma de atuação.

Assim, falar em um Direito de Impacto e um empreendedorismo jurídico deixa de ser apenas maneiras novas de fazer coisas velhas. Usar o UX Design ou pelo menos o Visual Law para melhorar a experiência do cliente é uma atitude louvável. Mas, é pouco diante da responsabilidade e importância dada ao bacharel em direito e ao advogado.

O UX Design, no direito, passa a ser uma maneira de atuar no mundo a partir das necessidades das pessoas e do mundo, escutando o outro, de forma ativa, desenvolvendo soluções em conjunto, testando maneiras de levar uma melhor experiência para aqueles que usam o direito – todos nós, em especial os mais necessitados.

E você, ator do direito, como sente que pode melhorar a experiência do usuário do direito?

Compartilhe:

Mais Posts

Envie-nos uma mensagem