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Desbravando o juridiquês com a linguagem simples

Por Allana Martins

 

 

Comunicar-se vai além de pronunciar palavras. A comunicação envolve também escuta ativa, posicionamento corporal, gesticulação, autenticidade, empatia, intencionalidade, entrosamento dos interlocutores e análise sobre se o que está sendo dito está sendo assimilado.

Dessa reflexão trazemos as duas célebres frases:

“Suas atitudes falam tão alto que não consigo ouvir o que você diz”, de Ralph Waldo Emerson.

“O mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito”, de Peter Drucker.

Na área jurídica não deveria ser diferente. Porém em muitas situações o famoso juridiquês ainda prevalece, com linguagem rebuscada e pouco acessível para os efetivos interessados, que podem ser nossos clientes, colegas… Estamos lidando com equipes multidisciplinares e com times não jurídicos. Portanto a comunicação precisa ser compreensível para que as demandas sejam executadas com assertividade.

 

Evidente que em contextos específicos do jurídico a formalidade deve estar presente, pois há ambientes que exigem o cumprimento de diretrizes como audiências, sessões de julgamento, reuniões com clientes, despachos com juristas. A reflexão que devemos fazer até nessas ocasiões é: como podemos expressar nossas teses de maneira objetiva? Esse cliente exige que sigamos todas as formalidades ou cabe outras abordagens? O material a ser apresentado pode ser mais compilado? Ao invés de proferir palavras requintadas, como posso simplificar minha mensagem?

 

São insights que devemos pensar e aplicar a cada situação pertinente. Historicamente o meio jurídico foi visto como burocrático, de linguagem rebuscada e nem sempre acessível. A situação foi sendo redesenhada ao longo do tempo, e hoje temos ambientes mais inovadores, tecnológicos, digitais e focados nas entregas, sem a perda da qualidade e com foco no cliente.

 

A pauta de simplificar o juridiquês foi destacada pelo Judiciário, por meio de incentivo à linguagem simples, com a ratificação do Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem Simples do CNJ[1]. Estamos diante de compromisso firmado perante a sociedade e que deve ser praticado pelos envolvidos com o Judiciário a fim de que os destinatários do sistema tenham objetividade no serviço executado e todos sejam beneficiados pelos trâmites necessários com mais eficiência.

 

Podemos mencionar como grandes ferramentas aliadas para essa transformação do juridiquês: o Design e o Legal Ops. O Design com todas as etapas de desenvolvimento e prototipação irá auxiliar na montagem, aplicação e testes dos projetos. Com destaque para o Visual Law, documentos são reformulados e compilados mantendo os conteúdos necessários de apresentação. Petições podem ser visivelmente mais fáceis de leitura e consequentemente com melhorias de teses.

 

O setor de Legal Ops com suas amplas nuances poderá rever fluxos e mapear novas estratégias para o negócio, identificando oportunidades ou formas diferentes de executar os projetos em andamento. Destacamos os Analytics que por meio de visualização de dados possibilita o direcionamento estratégico para tomada de decisões, análise de gargalos na operação, delineação de metas e indicadores, permeando por uma gestão dinâmica e relatórios automatizados.

 

São ferramentas que vão além de tecnologia e que estão vinculadas com a inovação tão necessária para o Judiciário, que vem evoluindo para otimização de resultados. Evidente que por estarmos diante de uma temática que envolve cultura, o processo é constantemente executado e melhorado, pois depende de engajamento e testagem. Mas ao identificar que a comunicação pode ser mais fluida sem perder a qualidade, potencializaremos o desenvolvimento de todos os envolvidos.

 

Ao aplicarmos a linguagem simples não estamos descartando a necessidade de que a mensagem seja clara. Simplicidade nesse caso não deve ser confundida com procedimento incompleto. A virada de chave é continuar fazendo mais com menos: menos palavras difíceis, menos palavras em latim, menos contratos com longas páginas, menos petições longas, menos dificuldade de compreensão. E com mais eficiência, agilidade, economia processual, gestão humanizada e análise de dados.

 

Que a gente possa entender que a simplicidade reside nas pequenas atitudes do cotidiano, e que desburocratizar o Judiciário é um trabalho de cada operador do Direito, focado em expandir nossa comunicação com dinamismo e criatividade.

[1] https://www.cnj.jus.br/gestao-da-justica/acessibilidade-e-inclusao/pacto-nacional-do-judiciario-pela-linguagem-simples/

 

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