The evolution of Legal Controllership
Por Luis Gustavo Potrick Duarte
Pós-graduado em Direito Público
Pós-Graduado em Gestão de Negócios, com Foco em Competências Comportamentais
Professor parceiro, na Future Law, PUC Campinas e Radar Gestão para advogados
Coordenador de Legal Operations, na Newsletter “Future Law 360°”, da Future Law
Consultor em Operações Legais, pela Potrick Legal Ops
Autor do livro “Dominando Legal Ops: integrando pessoas, processos e tecnologias”
gustavopotrick@gmail.com
A Controladoria Jurídica é uma área essencial dentro de escritórios e departamentos jurídicos, cuja principal função é organizar e controlar as atividades diárias, desempenhando um papel fundamental em nível tático e operacional. Esse setor atua como um ponto centralizador das demandas jurídicas, buscando eficiência na distribuição e monitoramento de tarefas, prazos e informações, garantindo que as operações cotidianas fluam de maneira estruturada e eficaz.
Tradicionalmente, o olhar da Controladoria Jurídica sempre esteve voltado para dentro do escritório/departamento jurídico, focado na gestão interna dos processos jurídicos. Seu papel envolve a administração do fluxo de documentos, gestão de prazos processuais, conferência e acompanhamento de atividades dos advogados e equipes de suporte, além de garantir que a comunicação interna esteja sempre fluida e eficiente.
Contudo, com o avanço acelerado da tecnologia no ecossistema jurídico, levando a uma massificação da prestação de serviços jurídicos digitais e automatizados, por via de softwares e sistemas “SaaS”, lawtechs e legaltechs vêm ganhando cada vez mais espaço e atenção, por parte dos donos de escritórios e gestores de departamentos jurídicos[1], principalmente em razão do baixo preço e maior eficiência que essas tecnologias proporcionam, se comparados aos custos em manter uma equipe de Controladoria Jurídica, para exercer as mesmas atividades.
E isso fez, obviamente, com que serviços que antes eram executados manualmente pelos profissionais de Controladoria passassem a ser amplamente automatizados por meio de softwares especializados, que conseguem oferecer maior produtividade, eficiência e custo reduzido.
Esse fenômeno está alinhado com a visão exposta no livro “O Advogado do Amanhã”, de Richard Susskind, que aborda justamente a necessidade de os profissionais jurídicos entregarem mais valor aos seus clientes cobrando menos.
Fato é que a automação de tarefas repetitivas por tecnologias mais baratas e mais eficientes tem colocado em cheque o modelo tradicional da Controladoria Jurídica, exigindo uma readequação urgente desse profissional ao novo cenário tecnológico.
Diante dessa realidade e conjugada com a crescente demandas dos clientes internos e externos, que passaram a exigir dos departamentos jurídicos uma abordagem muito mais estratégica, capaz de entender profundamente seus negócios e oferecer soluções jurídicas alinhadas aos objetivos corporativos, tornou-se imperativo que a Controladoria Jurídica evolua e aumente seu espaço de atuação, deixando de ser apenas operacional para assumir um papel estratégico mais abrangente.
Neste contexto, surge naturalmente a figura do profissional de Legal Operations (Legal Ops), uma evolução direta e aprimorada da Controladoria Jurídica. O Legal Ops é um profissional focado em otimizar processos, implementar tecnologias e gerenciar projetos jurídicos com uma visão holística e estratégica, bem diferente da visão tradicional que se restringe apenas ao operacional. Possui uma visão para fora do escritório/departamento jurídico, no qual busca atender, por via dos serviços técnicos próprios da área jurídica, os objetivos e metas estratégicas do cliente.
E essa evolução, diria até que contemplação da Controladoria Jurídica, por Legal Ops, é muito clara, por exemplo, quando analisamos a Mandala do CLOC (Corporate Legal Operations Consortium) e notamos que as habilidades, típicas da Controladoria Jurídica tradicional, estão diretamente contempladas e espalhadas, ao longo das 12 competências previstas pela Mandala.
Dentre essas competências estão gestão de projetos, planejamento estratégico, gestão de fornecedores e otimização de processos, por exemplo. Essas áreas já eram familiares ao profissional de controladoria, que agora precisa elevar suas competências para uma atuação ainda mais alinhada aos objetivos estratégicos da organização.
Porém, há um detalhe muito importante: a vantagem competitiva que um profissional de Controladoria possui para migrar para uma função de Legal Ops é significativa, principalmente pela sua experiência prévia em organização, planejamento e estruturação de fluxos internos. Este conhecimento acumulado permite que ele converse com propriedade com líderes e donos de negócios, compreendendo claramente suas necessidades e objetivos.
A migração de Controladoria Jurídica para Legal Ops significa, portanto, uma expansão natural das competências desse profissional. Enquanto o controler tradicional se dedica mais ao acompanhamento e organização operacional, o profissional de Legal Ops amplia sua atuação para contemplar questões estratégicas, tecnologias emergentes, gestão financeira e análise de dados, todas competências vitais em um ambiente jurídico moderno e orientado para resultados.
Essa evolução é impulsionada, sobretudo, pela demanda crescente por serviços jurídicos mais eficientes e personalizados, onde a capacidade estratégica de um profissional faz toda a diferença. O papel do Legal Ops é assegurar que o jurídico esteja alinhado às metas de negócios, traduzindo demandas complexas em soluções práticas e viáveis.
Com a crescente digitalização do mercado jurídico, o espaço para a atuação tradicional e puramente operacional diminui rapidamente. A demanda do mercado é clara: profissionais capacitados em Legal Ops que possam entregar valor estratégico e real às organizações[2].
Portanto, é evidente que a evolução lógica e natural da Controladoria Jurídica é tornar-se uma área de Legal Operations. Esse caminho é não apenas necessário, mas inevitável para profissionais e organizações que desejam permanecer competitivos e eficazes no novo cenário do mercado jurídico.
[1] Para se ter uma noção do avanço das Legaltechs e Lawtechs na prestação de serviços jurídicos digitais e automatizados, basta um olhar mais apurado sobre o Radar de Lawtechs e Legaltechs, da AB2L (https://ab2l.org.br/ecossistema/radar-de-lawtechs-e-legaltechs/)
[2] Corroborando essa afirmação, a FGV Direito de SP lançou um relatório onde, com dados e informações extraídos em pesquisa realizada em nível nacional, comprova que a área de legal operations é a que mais cresce no mercado jurídico brasileiro. Mais informações em https://direitosp.fgv.br/projetos-de-pesquisa/legal-operations-perspectivas-inovacao-gestao-juridica